sexta-feira, 15 de abril de 2011

QUEBRA-CABEÇAS






Estou aqui,

orfã do tempo que não volta,

vivendo a parcela irrepetível do sol.



Vultos quase sem nome se montam,

feito um quebra-cabeças esquecido na gaveta,

como velho troféu guardado.



A cada lembrança

o peito se retrai ferido,acuado,

molhado em sal,sangue,suor e mágoas.



Igual triste animal a lamber seus cortes,

à espera de cicatrizes.



Rosy Moreira

quinta-feira, 14 de abril de 2011

SONO PROFUNDO





Hoje,

sem discursos nem palavras,

a minha voz calou.



Uma sinistra navalha

corta o destino,

semeando a dor sem disfarce.



Em meio ao horror,

a criança precocemente voou,

feito pássaro sangrento

emplumado de miúdos sonhos.



Num remoto dia de outono,

pousou o sono eterno e profundo.



Rosy Moreira




Esqueci o calor a dois,o sabor de um beijo,

a cumplicidade do abraço.



Esqueci de ter,de ser,de sentir...



Esqueci!



Esqueci a emoção de ser plural,

nos planos e sonhos conjugados a dois.



Esqueci o bendito arder da paixão,

a sensação de se chegar ao céu,

feito caça,ou caçador duelando em meio aos lencóis.



Acostumei a me abraçar só,a me bastar,

a mergulhar no fundo de mim mesma,

feito acenos de alheios milagres.



Triste sina essa

de brincar de amor sozinha!



Rosy Moreira

quarta-feira, 13 de abril de 2011

EM PROL DA LUZ



Primavera é quando

a sombra se recolhe em contradição,

em prol da luz,

como sacrifício à vida.



E a cúpula dos dias,

clara,morna,leve,

entre tantas paisagens minúsculas,

fica florida de amigos.



Rosy Moreira

segunda-feira, 11 de abril de 2011

PÁSSARO






Não tente me prender em gaiola.



Sou um animal livre,

a voar solto nos braços das vontades.



Pássaro aventureiro,

pousado no peito de um galho qualquer.



Rosy Moreira

CASCA




A poesia é como eu:

ora doce,ora amarga.



A cada sorriso ou dor

ela reforça sua casca,

criando sua própria resistência.



Rosy Moreira

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ANIMAL SOCIAL




Numa estranheza palpitante,

o coração chora lágrimas de sangue.



Envergonhado,só ele sabe o quanto dói

sangrar no peito do "animal social "

chamado homem.



Rosy Moreira